Acróstico

Composição poética que é disposta numa sequência de maneira que as letras iniciais de cada verso colocadas na vertical formem uma ideia, um nome ou uma frase. Já era praticado na Antiguidade pelos escritores Gregos e Latinos e na Idade Média pelos monges. Hoje em dia é fácil encontrar também o acróstico em jornais, revistas e puzzles.

Podemos dizer que o acróstico parece englobar três funções: 1) uma procura de virtuosidade própria dos poetas palacianos; 2) um carácter lúdico que designa todo um jogo de espírito subtil; 3) um certo gosto pelo secreto. Em Portugal, no séc. XV, meu pensamento”:



Vencido está de amor meu pensamento,

O mais que pode ser vencida a vida,

Sujeita a vos servire instituída,

Oferecendo tudo a vosso intento.



Contente deste bem, louva o momento

Ou hora em que se viu tão bem perdida;

Mil vezes desejando a tal ferida,

Otra vez renovar seu perdimento.



Com esta pretensão está segura

A causa que me guia nesta empresa.

Tão sobrenatural, honrosa e alta,

Jurando não seguir outra ventura,

Votando só para vós rara firmeza,

Ou ser no vosso amor achado em falta.



Neste caso a frase é Vosso como cativo, mui alta senhora, e constitui um duplo acróstico, composição difícil, na qual a leitura de duas séries de letras separadas forma uma frase significativa. Mas se relermos o repertório das curiosidades poéticas deparamos com o pentacróstico aue repete cinco vezes a mesma palavra, em cinco partes verticais dos versos (v. Tratatus de Executoribus de Silvestre de Morais, Tome II, Lisboa, 1730, p. 11).

O acróstico dissimula a palavra, que ele dá, escondendo-a; e requer do leitor uma certa esperteza para descobrir a sua subtileza. Relaciona-se com a adivinha e liga-se logicamente com ela pois existem enigmas em verso cujo nome figura em acróstico. Um autor pode assinar com um tipo de assinatura cifrada o seu próprio nome em acróstico. Vejamos como exemplo o poema de Ofélia Queirós dedicado a Fernando Pessoa:

Fazia bem em me dizer

E grata lhe ficaria

Razão porque em verso me dizia

Não ser o bom-bom para si...

A não ser que na pastelaria

Não lho queiram fornecer

D’outro motivo não vi

Ir tal leva-lo a crer.

Não sei mesmo o que pensar

Há fastio para o comer?

Ou não tem massa pr’o comprar?!



Peço porém me desculpe

Este incorrecto poema

Seja bom e não me culpe

Sou estúpida, e tenho pena

O Sr. é muito amável

Aturando esta... pequena...



ACRÓNIMO; LOGOGRIFO


Teresa Reis

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