O conceito de literariedade

O Texto Literário distingue-se, nomeadamente, pelo facto de transformar a realidade, servindo-se dela como modelo para a arquitectar mundos “fantásticos”, que só existem textualmente e que se estabelecem através da metáfora, da caricatura, da alegoria e pela verosimelhança. Residindo aqui a ficcionalidade patente no Texto Literário. Este é o elemento que mais o diferença do Texto Não Literário, que tem por finalidade transmitir uma informação objectiva e autêntica da realidade. Para isso, o Texto Não Literário vai combinar as palavras, numa sucessão coerente, sem que estas sejam independentes, mas apenas sejam úteis na comunicação. O Texto Literário, evidencia também coerência no facto do texto registar uma estrutura própria e não simplesmente um conjunto desorganizado de frases mas em oposição ao Texto Não Literário vai enaltecer a palavra e os recursos estilísticos. Há uma selecção rigorosa das palavras, de modo a organizarem uma estrutura que realce os diversos significados das palavras, transcendendo a sua significação. São estas características que fazem do Texto Literário uma entidade pluri-isotópica, na medida em que é constituída por diferentes níveis de expressão, que têm entre si uma relação de interdependência, e ainda pela intertextualidade que este convoca, constituindo um todo estrutural e distanciando-se assim do discurso cientifico. Com o mesmo objectivo, Roman Jakobson vai mencionar a literatura como a expressão da função estética da linguagem, que vai ao encontro precisamente a esta selecção das palavras. Jakobson vai falar ainda do encadeamento de seis factores indispensáveis na conversação; a mensagem é enviada pelo emissor ao receptor, através do mesmo canal, aplicando o mesmo código e reconhecendo ambos um contexto comum. Neste esquema comunicacional, Jakobson vai diferenciar seis funções da linguagem verbal: expressiva, conotativa, referencial, fática, metalinguística e poética. A função poética é a função dominante da obra e da linguagem literária, embora outras funções estejam dependentes dela. Nesta função, o fundamental é a palavra, na sua própria definição, e que vai ser mencionada, com um discurso atraente e original, adquirido através do método de selecção das palavras. Da conformidade entre a combinação e a selecção, vai resultar a Literariedade, isto é, o conjunto de propriedades que caracterizam a linguagem literária. Portanto, quanto maior for a selecção, e a combinação, mais literário é o texto. A concepção de Literariedade surgiu da vontade de definir a linguagem literária como autónoma, com funções distintas das iminentes ao Texto Não Literário. Surgiu ainda com o intuito da literatura se afirmar como ciência, pois até ao século XIX, as artes não eram consideradas ciências. O formalismo russo procurou, assim, determinar as propriedades exclusivas do Texto Literário, como resposta a esta necessidade de comprovar a autonomia estético-discursiva e a funcionalidade própria do Texto Literário. Paralelamente à teoria de Jakobson, que indica os factores formais como sinais da particularidade da linguagem literária, vão aparecer outras teorias, tal como a de Tynianov, que nomeia condições externas ao texto, de origem histórica e social, isto é, o contexto, como fontes importantes na explicação da linguagem literária. Pode depreender-se então, que o Texto Literário tem um conjunto de características específicas que o distinguem do Texto Não Literário, a Literariedade, características essas que dependem da estrutura formal e do contexto, e que condensam numa transformação do real.

3 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Olá. Gostei bastante do texto. No entanto, gostaria de saber as referências, principalmente da parte qur você fala que literatura é ciência. Obg

Unknown disse...

Olá. Gostei bastante do texto. No entanto, gostaria de saber as referências, principalmente da parte qur você fala que literatura é ciência. Obg

Copyright © 2008 - Verve Literária - is proudly powered by Blogger
Blogger Template